Visualizações de página do mês passado

abril 12, 2025

A HISTÓRIA DO CASTELO QUE GUARDA MEMÓRIAS

 


Na borda de um vasto vale, onde os ventos traziam o cheiro doce das flores silvestres, erguia-se a Fortaleza das Memórias, um castelo que parecia desafiar o próprio tempo. 

Suas torres altas tocavam as nuvens, e as janelas, de vitrais coloridos, refletiam um caleidoscópio de luz que dançava sobre as pedras desgastadas pelo tempo. 

Diziam que cada cor e cada brilho ali traziam uma emoção diferente das lembranças guardadas.

 

O alquimista que construiu o castelo, conhecido apenas como Maestro Ansem, era um homem de grande sabedoria, mas também de um coração solitário. 

Ele perdeu tudo o q

ue amava—família, amigos e até sua própria terra natal. Devastado pela dor, ele dedicou sua vida à compreensão da essência das memórias, acreditando que nelas residia a verdadeira alma das pessoas. 

E assim, forjou a magia do castelo: um encantamento que podia capturar a essência dos momentos vividos.

 

Quando alguém cruzava os portões de ferro da Fortaleza, um estranho frio percorria o corpo, seguido por uma onda de calor aconchegante, como um abraço familiar. 

As memórias que o visitante mais valorizava começavam a ser projetadas em um vasto salão, onde as paredes se moviam constantemente, como se estivessem vivas. 

Ali, podia-se ouvir as risadas perdidas de um ente querido, reviver a dança de um casamento, ou até ver o instante em que uma criança deu seus primeiros passos. 

Alguns visitantes choravam de emoção; outros saíam transformados, com um novo propósito.

 

O Maestro Ansem, por outro lado, observava tudo em silêncio. 

Dizem que ele buscava incessantemente uma memória perdida: o rosto de sua filha, que ele, devido à passagem do tempo, não conseguia mais lembrar por completo. 

Mas, estranhamente, a magia do castelo nunca lhe devolveu essa lembrança, como se o próprio feitiço tivesse criado um limite que ele não poderia atravessar.

O Maestro Ansem passava seus dias vagando pelos corredores do castelo, observando as memórias dos visitantes fluírem pelas paredes vivas, enquanto seu coração permanecia pesado com a lembrança incompleta de sua filha. 

O rosto dela era como um borrão em sua mente, uma pintura desbotada pelo tempo, e isso o atormentava profundamente. 

Ele começava a duvidar se a magia que criara o castelo era, de fato, tão poderosa quanto acreditava.

 

Certa noite, enquanto o vento sibilava pelas torres altas, o alquimista ouviu um som que nunca antes havia escutado no castelo: o riso de uma criança. 

Era um som suave, que parecia ecoar pelos corredores como uma melodia distante. Intrigado, seguiu a risada até uma parte do castelo que ele raramente visitava, uma câmara secreta escondida por trás de uma porta antiga e desgastada, coberta por runas esquecidas.

 

Quando ele abriu a porta, encontrou um salão que nunca havia visto antes. 

No centro, havia um espelho imenso, sua moldura trabalhada com detalhes de flores, estrelas e símbolos que representavam o ciclo da vida. 

Este espelho não refletia o presente, mas memórias esquecidas, preservadas como uma biblioteca oculta dentro do coração do castelo.

 

Ao se aproximar do espelho, Ansem viu reflexos de momentos preciosos. 

Lá estava sua filha correndo por um campo de flores, sua risada cristalina como música para seus ouvidos. 

Lá estavam suas mãos pequenas segurando as dele com força, enquanto ela aprendia a caminhar. 

Lá estava o sorriso dela, tão radiante que parecia iluminar todo o salão.

 

No entanto, o espelho mostrava mais do que apenas memórias felizes. 

Ele também revelou momentos que Ansem havia enterrado no fundo de sua alma: o momento em que ele se afastou dela em busca de seus estudos de alquimia, sua promessa de que voltaria antes que o inverno terminasse—a promessa que ele não conseguiu cumprir. 

Ao ver essas imagens, lágrimas escorreram por seu rosto, enquanto ele compreendia a profundidade de sua própria dor e arrependimento.

 

Mas algo mágico aconteceu. 

Ao encarar essas memórias, o espelho começou a brilhar intensamente, e a imagem de sua filha apareceu clara e nítida como nunca antes. 

Nesse momento, Ansem percebeu que o castelo não tinha escondido a memória dela dele, mas aguardado até que ele estivesse pronto para enfrentá-la com o coração aberto.

 

Com o coração finalmente em paz, o alquimista entendeu que as memórias, mesmo as dolorosas, são parte essencial de quem somos. 

Ele deixou o salão com uma nova missão: usar a magia do castelo não apenas para guardar memórias, mas para ajudar outros a encontrarem a paz com suas próprias histórias.

 

Um dia. a Fortaleza começou a desaparecer. 

Pouco a pouco, suas torres começaram a se dissolver no ar como poeira de estrelas, até o castelo inteiro sumir da vista dos homens. 

A última pessoa a vê-lo contou que, ao final, o castelo deixou uma mensagem gravada no solo, escrita em uma língua esquecida.

Traduzida, dizia algo como:

"As memórias mais preciosas não estão em um lugar, mas dentro de cada coração que se lembra de amar."

 

Alguns dizem que o castelo ainda surge nas noites em que a lua está cheia e os ventos são calmos.

Mas apenas aqueles que ainda carregam um coração cheio de memórias—boas ou dolorosas—podem encontrá-lo e atravessar seus portões novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A HISTÓRIA DE UM DRAGÃO APAIXONADO

 O DRAGÃO APAIXONADO Em um reino distante, entre montanhas envoltas em névoa, vivia um majestoso dragão chamado Eldrin. Seu coração era vast...