O Ano que a Chama Quase se Apagou
Na vila de São Clemente, a tradição da fogueira de São João era sagrada. Todos os anos, os moradores se reúnem para assistir ao grande momento: quando Dona Carminda, com seu isqueiro antigo e um único movimento, acendia a chama que garantiria boa sorte para toda a comunidade.
Mas naquele ano, algo estava diferente. Desde cedo, o vento soprava forte, bagunçando as bandeirinhas e derrubando os chapéus de palha das crianças. A preocupação logo se espalhou. E se a fogueira não acendesse? E se o vento apagasse a chama antes que ela pudesse crescer?
Dona Carminda se manteve firme, segurando seu isqueiro com as mãos experientes.
— Sorte não é só questão de fogo, meus filhos — disse ela. — É questão de união.
Com todos reunidos ao redor da fogueira, a anciã riscou o isqueiro… mas nada aconteceu. A chama não veio. Um murmúrio de inquietação percorreu a multidão. Seria um mau presságio?
Foi então que Miguel, um jovem aprendiz de ferreiro, deu um passo à frente.
— Se a chama não quer nascer sozinha, vamos ajudá-la!
Com isso, cada morador pegou um pouco de palha seca, gravetos e pedaços de lenha. O grupo se uniu, protegendo a fogueira do vento e criando uma barreira com seus corpos, enquanto Miguel pegava uma pedra de pederneira e tentava fazer faíscas.
O primeiro esforço falhou. O segundo, também. Mas, na terceira tentativa, um pequeno brilho apareceu.
O coração da vila disparou. Todos prenderam a respiração. E então… a chama cresceu! Primeiro tímida, depois forte e majestosa, iluminando os rostos dos moradores e colorindo a noite.
Gritos de alegria ecoaram, enquanto o fogo dançava no meio da praça. Dona Carminda sorriu e declarou:
— Este ano, a fogueira não foi acesa por uma única pessoa, mas por todos nós. Que nossa sorte seja compartilhada, assim como nosso esforço.
E foi assim que a vila de São Clemente descobriu um novo significado para sua tradição: que a verdadeira sorte não vinha da chama, mas da união daqueles que a protegiam.
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