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março 19, 2025

A HISTÓRIA DA BONECA SOFIA


 A BONECA





 

 

daisy aguinaga d’eibar

 

 

Era uma vez uma boneca de louça, feita à mão com tanto cuidado que parecia ter vida própria. Seus olhos de vidro brilhavam como estrelas, e suas bochechas pintadas tinham um tom de rosa suave.

Era o tesouro de Clara, que a chamava carinhosamente de Sofia. Durante anos, Sofia acompanhou Clara em todas as suas aventuras, ouvindo segredos, partilhando risadas e até secando lágrimas.

Mas o tempo passou, e Clara cresceu.

A boneca, agora esquecida, repousava em meio a velhas caixas e móveis cobertos por lençóis, observando as partículas de poeira dançarem na luz tímida que se infiltram pelas frestas

O silêncio do sótão tornou-se sua companhia, e ela imaginava se algum dia veria novamente a luz do dia e, no silêncio, aguardava, talvez um olhar, talvez um toque, talvez um sussurro familiar que nunca mais veio.

Quarenta anos depois, um dia, uma menina curiosa, chamada Luna, sobrinha-neta de Clara, resolveu explorar o sótão.

O sótão era um santuário do tempo. Feixes de luz dourada escapavam pelas frestas, iluminando as partículas de poeira que dançavam como pequenos vaga-lumes. O cheiro de madeira antiga e livros guardados há décadas dominava o ar. Sob os passos de Luna, as tábuas do chão rangiam como se sussurrassem histórias há muito esquecidas. Malas de couro desgastado, caixas empoeiradas e um cavalete tombado estavam dispostos de forma caótica, mas cheia de histórias. Quando seus dedos tocaram Sofia, o frio do vidro dos olhos da boneca encontrou o calor de suas mãos pequenas – como se um elo entre gerações tivesse acabado de ser formado.

Ao abrir uma das caixas, seus olhos encontraram algo mágico: Sofia, ainda impecável, como se o tempo não tivesse deixado marcas.

 

 


Com suas mãos pequenas e cuidadosas, Luna pegou a boneca, seus olhos brilhando com curiosidade e encanto. Era como se Sofia tivesse aguardado todo aquele tempo apenas por aquele momento, por aquele olhar.

Luna, encantada com a boneca, pegou-a nos braços e sentiu uma estranha conexão. Quando Clara viu Sofia novamente, lágrimas correram por seu rosto. Ela contou a Luna todas as memórias que Sofia havia testemunhado, e a boneca, silenciosa como sempre, parecia mais viva do que nunca.

Ao descer correndo com a boneca nos braços, Luna encontrou Clara, agora uma senhora de cabelos grisalhos e olhos carregados de saudade. Quando Clara viu Sofia novamente, uma avalanche de memórias a envolveu. Sua voz trêmula de emoção contou histórias de uma infância há muito passada, de aventuras que só Sofia conhecia. Enquanto narrava, os olhos de Luna brilhavam, e a conexão entre as três – Clara, Luna e Sofia – parecia transcender o tempo.

Sofia, que antes era apenas uma boneca esquecida, tornou-se novamente o elo entre gerações, uma testemunha silenciosa de amor, risos e histórias que nunca morrerão.

A boneca ganhou um novo lar e uma nova amiga, enquanto Clara, agora uma senhora, viu sua infância renascer nos olhos de Luna.

Com a boneca de louça nas mãos de Luna, Clara sentou-se em uma poltrona antiga, seus dedos enrugados tocando delicadamente a peça, como se o tempo pudesse ser revertido com aquele toque. Sua voz tremia, não de fraqueza, mas do peso das memórias que surgiam como ondas incessantes.

“Eu tinha uns sete anos,” começou Clara, seus olhos perdidos em um horizonte invisível. “Eu e Sofia vivíamos aventuras que ninguém mais podia entender. Ela era minha confidente, minha heroína, e às vezes até vilã nas minhas histórias. Quando o verão chegava, levava Sofia comigo para o campo. Corríamos juntas entre as árvores, inventamos histórias de princesas e castelos...” Clara deu uma risada curta, interrompida por um nó de emoção em sua garganta.

Ela continuou, agora com a voz um pouco embargada, descrevendo as noites em que sussurrava segredos para a boneca à luz de uma lanterna, imaginando que a boneca poderia responder.

“Eu dizia a ela coisas que nem para minha mãe contava. Sofia sabia tudo sobre mim. Ela era... meu mundo.”

 

Quais segredos que Clara teria contado à sua querida boneca Sofia?

 

Clara, quando criança, tinha uma quedinha por um menino da escola. Ela escrevia pequenas cartas de amor e as guardava sob o travesseiro, mas só tinha coragem de ler para Sofia, sussurrando baixinho para ninguém mais ouvir.

As palavras pareciam fluir como um riacho melancólico, e Luna ouvia com atenção, sentindo-se conectada não apenas à tia-avó Clara, mas também a Sofia, que agora parecia muito mais do que apenas uma boneca. Enquanto Clara falava, uma lágrima silenciosa escorreu por seu rosto, como se cada memória narrada carregasse um pedaço de sua infância que nunca quisera abandonar.

Certa vez, Clara e sua boneca foram "explorar" um jardim abandonado que ficava na vizinhança, um lugar onde os adultos tinham proibido de ir. Clara imaginava que o jardim estava cheio de fadas escondidas e dizia a Sofia que era sua "missão secreta."

Adorava desenhar e tinha um caderno especial onde criava ilustrações de mundos mágicos. Mas ela achava que ninguém entenderia sua imaginação, então mostrava apenas para Sofia, dizendo que ela era a guardiã desses mundos.

Esses segredos criam uma conexão emocional ainda mais profunda entre Clara e a boneca.

Ela tinha medo do escuro, mas não contava para ninguém além de Sofia. À noite, ela segurava a boneca bem apertada enquanto imaginava que ela era uma corajosa guardiã contra os "monstros" invisíveis que poderiam aparecer.

Clara sonhava em viajar para lugares distantes e desconhecidos. Ela dizia para Sofia que, um dia, elas iriam juntas visitar castelos encantados na Europa ou descobrir tesouros escondidos em ilhas tropicais.

Quando ela brigava com suas amigas ou se sentia solitária, ela chorava baixinho e confidenciou a Sofia como se a boneca pudesse confortá-la: sempre a "ouvia" sem julgamento e era sua amiga mais leal. Clara tinha um jeito alegre de ser, mas como toda criança, havia dias em que o peso do mundo parecia recair sobre seus pequenos ombros.

Sempre que algo a magoava, ela procurava o refúgio do seu quarto, onde Sofia, a boneca de louça, esperava pacientemente em sua prateleira. Clara pegava Sofia com cuidado, como se o simples toque da boneca pudesse acalmá-la, e se acomodava em sua cama, abraçando-a com força.

Era ali, longe dos olhares curiosos e das perguntas indesejadas, que Clara deixava suas lágrimas rolarem. As brigas com suas amigas na escola eram as mais difíceis de suportar. Aquelas palavras ríspidas e o sentimento de exclusão doíam mais do que ela conseguia explicar.

"Por que elas não gostam mais de mim, Sofia?" sussurrava, com a voz embargada, encarando os olhos de vidro da boneca, que pareciam brilhar ainda mais sob a luz fraca da tarde.

Clara também chorava quando sentia falta do pai, que viajava muito a trabalho. Nas noites mais solitárias, ela falava baixinho com Sofia, como se a boneca fosse um portal para suas emoções mais profundas.

"Será que ele sente minha falta também?", perguntava, enquanto acariciava os cabelos perfeitamente moldados da boneca.

Clara queria ser escritora quando crescesse, mas tinha vergonha de contar para os outros, com medo de que rissem do seu sonho. Ela escrevia pequenos contos e lia apenas para Sofia, dizendo que a boneca seria a primeira a ver seu futuro livro publicado.

Embora a boneca não pudesse responder, para Clara, ela era mais do que uma boneca; era um receptáculo de seus sentimentos, um símbolo de aceitação e compreensão em um mundo que, às vezes, parecia difícil demais de enfrentar. Depois de desabafar, ela sempre se sentia mais leve, como se, de algum modo, a boneca tivesse absorvido um pouco da sua dor, deixando espaço para um sorriso tímido voltar ao seu rosto.

Havia uma relação de confiança e cumplicidade entre elas.

Essa relação entre Clara e Sofia era um vínculo especial que transcendia palavras e tempo.

No silêncio daquele quarto, a boneca era a guardiã de segredos que Clara não tinha coragem de compartilhar com ninguém mais.

 A boneca de louça, antes esquecida, tornou-se novamente uma fonte de amor, união e histórias compartilhadas entre gerações.

 

 


 

Agora é sua vez de dar prosseguimento à História.

Descreva a relação de Luna com a boneca

    


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


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